O Mapa no Mito



A palavra mito vem do grego clássico: μυθος que romanizado se grafa mithós. O mito é uma narrativa de caráter simbólico-imagético que evolui com as condições históricas e étnicas relacionadas a uma dada cultura, que procura explicar e demonstrar, por meio da ação e do modo de ser das personagens, a origem das coisas (do mundo; dos Deuses; da Humanidade; dos animais; das doenças; dos objetos; das práticas de caça, pesca, medicina entre outros; do amor; do ódio; da mentira e das relações,. entre e intra cada uma destas realidades) sendo muito frequente assumirem um tom pedagógico por valorizar determinadas condutas de acção e atitudes em detrimento de outras num esquema directo de castigo versus recompensa. Vale a pena reforçar que o mito não é uma realidade independente  sendo correto afirmar que o mito depende de um tempo e espaço para existir e para ser compreendido. 

Há vários tipos de mitos entre os quais:
Cosmogonias: mitos de origem e destruição, incluindo os messiânicos e milenarista;
Mitos folclóricos: locais, regionais, etnográficos;
Mitos fundadores, onde se explica a origem de um rito, uma crença, uma filosofia, uma cidade ou comunidade;
Mitos de providência e destino: o conceito grego de húbris está presente em toda a mitologia clássica e reflete este tipo de mito;
Mitos de renascimento e renovação, incluindo os de memória e esquecimento;
Mitos de seres superiores e seus descendentes;
Soteriológicos: de salvadores e heróis;
Mitologia: grupo organizado de mitos que parte de um panteão de entidades (divinas ou heróicas que alcançam o estatuto divino);

Como o mito está associado o rito e o rito é o modo de se pôr em ação o mito na vida humana - seja  em cerimônias, danças, orações e sacrifícios, uma das formas mais reveladoras de trabalho com o mito é a sua experiência e vivência como psicodrama.  O psicodrama é uma psicoterapia em grupo em que a representação dramática improvisada é usada como núcleo de abordagem e exploração da psique humana e seus vínculos emocionais, visando à catarse e ao desenvolvimento da espontaneidade do indivíduo. Trabalhar o mito em rito em grupo é das mais antigas manifestações humanas de integração à realidade seja ela sensorial ou sensorial, seja ela material ou imaterial, seja ela visível ou invisível. Em grupo, recriamos os mitos e ressoamos nos arquétipos que evocamos numa abordagem que permite a espontaneidade pela UPG/UCG (revelação pessoal não verificada/revelação coletiva não verificada) porque por mais que se repita o mito em rito, este despertará sempre novas experiências e inferências mimicando a dinâmica de renovação transportada pelos próprios mitos (a maioria deles espelha ciclos naturais que como o nome indica, se repetem, ciclicamente).
Portanto, enquanto narrativa organizada, o mito apresenta todos elementos necessários para a sua dramatização ritualizada. E quando aliamos o potencial do mito à fórmula do arquétipo, temos um resultado ritualístico transformador que permitirá a quem nele participe, protagonizar as forças mitológicas que integram a narrativa ao mesmo tempo que conecta os padrões internos aos padrões externos e eternos captados pelo próprio arquétipo e pela dinâmica cíclica trabalhada no mito.

E assim se recriam os mitos que celebram as estações, seja através da passagem de Deuses de um plano para o outro, seja da própria natureza protagonizando a dinâmica do mito através de agência própria. Assim como o ser humano acolhe a primavera que marca o fim do inverno, também a nossa psique reage ao sopre de vida que começa a rebentar nos campos, e o sol que nos dá mais dia. Estes movimentos não nos são indiferentes, e quando escolhemos celebrá-los e experienciá-los em rito, os mitos são os mapas que nos permitem orientar pelos conceitos e fenómenos que  nos traçam o caminho para que ciclicamente retornemos ao gesto de recriar o cosmos num psicodrama colectivo.


Referências:
GRIMAL, Pierre (2013). Mitologia grega. Rio Grande do Sul: L&PM
ORTIZ-OSÉS, Andrés Cuestiones fronterizas: una filosofía simbólica. Barcelona: Anthropos, 1999.
CHEERS, Gordon Mitologia: mitos e lendas de todo o mundo. Seixal: Lisma, 2006
FERREIRA, A. B. H. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 1 411.

A Senhora do Templo


Inanna é a nossa inspiração e Mãe espiritual. Nos seus mitos, a indomável luta e conquista, não temendo nem o Rei do Céu nem a Rainha do Submundo, nem o Consorte que reina sobre a vida na Terra triunfando sobre os três, coroando-se a força que se sagra vitoriosa em cada um destes planos: Céu, Terra e Submundo. Inanna é a Senhora do Coração Grandioso, onde todo o universo cabe, e é ela quem convida a trabalhar o Paganismo Universalista, procurando a união e a força a partir do que é diferente e diversificado.

O Templo de Inanna move-se com um corpo do séc. XXI neste canto de terra de antepassados que canta e dança com forças nascidas a oriente. Segundo Samuel Noah Kramer, tudo começa na Suméria, e a nossa civilização enraíza-se até à sua história, e o exercício de conduzir uma tradição antiga como a suméria numa terra com carga telúrica como a nossa é um desafio apaixonante e a dança que resulta é muitíssimo bela.

Foto por Alva Möre

FAQs do Templo de Inanna



Q: Trabalham qualquer Deusa, Deus, entidade divina independentemente do panteão de que originam?
R: As tradições pagãs e/ou politeístas não surgem do ou no vazio, há sempre forma de as trabalhar e nós desenvolvemos um método que ajuda qualquer pessoa interessada a trabalhar a sua tradição independentemente da Deusa ou Deus, ou entidade divina que a chame. Vale a pena frisar que este desenvolvimento inclui trabalho e aconselhamento personalizados a cada devoto. Contem com estudo e propostas vivenciais.

Q: Inanna faz parte do panteão mesopotâmico conhecido como os Anunna, então e sobre os Anunnaki, os reptilianos e os astronautas primordiais?
R: Não somos adeptos de teorias que envolvam seres extra-terrestres que conduzam a história ou a criação da humanidade. Daí que o Zecharia Sitchin não esteja na nossa bibliografia recomendada.

Q: Fazem celebrações abertas?
R: Sim, o Templo de Inanna realiza celebrações abertas a convidados.

Q: Posso participar no/integrar-me no Templo?
R: Qualquer devoto pode entrar no Templo em busca de Inanna ou outra entidade divina. Se a escolha toca no coração, o caminho é um processo.

Q: Como posso dedicar-me a uma tradição pagã/politeísta?
R: Com estudo e vivência. Estudo de mitos, de textos, de canções e composições da época quando esse espólio está disponível. Mas também estudo da arte, da cultura, da geografia, da ciência, da história e até da política das civilizações que pariram essas tradições pagãs/politeístas. Sem descurar a vivência! A experiência sensorial e psíquica dos ritmos da natureza através da observação dos ciclos naturais (sol, lua, terra, seres vivos). Uma das frases vindas de transcrições sumérias antigas que nos inspira é "Conhecer os Deuses é conhecer o seu coração" e no coração dos Deuses vivem as fórmulas para lermos o universo dentro e fora de nós.

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